08 julho 2016




Sean Riley & The Slowriders, Vagueira face


Antes do século XX, a versão fundamentalista do islamismo dos salafitas era pouco atractiva fora do deserto arábico. Já não é assim. Os que se dedicam à difusão do salafismo, financiados pelos petrodólares da Arábia Saudita, tiveram um grande impacto na forma como muitos muçulmanos comuns interpretam hoje a sua fé, assim como na forma como se relacionam com as outras religiões e com os muçulmanos menos ortodoxos e os não-sunitas, em especial os xiitas. Controlado pelos extremistas islâmicos, este salafismo financiado pelo petróleo serviu como justificação ideológica para a jihad violenta, que tem por objectivo reinstaurar o califado islâmico do século VII, e impulsionou grupos como a al-Qaeda, o Hamas e as brigadas de bombistas suicidas sunitas do Iraque, da Palestina e do Paquistão.
A motivação saudita para exportar o islamismo salafita tornou-se ainda maior depois de radicais fundamentalistas terem desafiado as credenciais muçulmanas da família saudita no poder ao assumirem o controlo da Grande Mesquita de Meca em 1979 o ano em que, por coincidência, se deu a revolução iraniana e houve um elevado aumento dos preços do petróleo. Como Lawrence Wright sublinha na sua história sobre a al-Qaeda,A Torre da Derasosrego':
O ataque à Grande Mesquita (...) despertou a família real para a efectiva possibilidade de uma revolução. A lição que a família retirou daquele impasse sangrento é que apenas poderia proteger-se contra extremistas islâmicos dando-lhes mais poder. (...) Consequentemente, os muttawa, vigilantes religiosos subsidiados pelo governo, tornaram-se uma presença esmagadora no Reino, vagueando pelos centros comerciais e restaurantes, perseguindo os homens para irem à mesquita nas horas da oração e garantindo que as mulheres estavam devidamente cobertas.
Não contente com a opressão, no seu próprio país, do mais pequeno grau de liberdade religiosa, o governo saudita partiu para a evangelização do mundo islâmico, utilizando os milhares de milhões de rials ao seu dispor através do imposto religioso - o zakat - para construir centenas de mesquitas e universidades c milhares de escolas religiosas em todo o mundo, com imãs wahhbita e professores. Assim, a Arábia Saudita, que representa apenas um por cento da população mundial muçulmana, apoiaria 90 por cento dos encargos de toda a religião, anulando as outras tradições islâmicas. A música desapareceu do Reino. A censura abafou a arte e a literatura; e a vida intelectual -que quase não teve possibilidade de florescer no jovem país atrofiou. A paranóia e o fanatismo ocupam naturalmente as mentes fechadas e receosas.

Quente, plano e cheio - Thomas L. Friedman

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