03 fevereiro 2016

Galleria delle carte geografiche, Vaticano, Roma wiki

Quando contei a história de Chumley [...] O gorila, como acontece tantas vezes com os macacos grandes, já não tinha idade nem tamanho para andar ao colo e tornara-se profundamente solitário. Quando era novo, mexiam-lhe e acarinhavam-no, brincavam e lutavam com ele, abraçavam-no e davam-lhe palmadinhas, e de repente todo aquele agradável contacto físico tinha desaparecido. Ele tinha crescido tanto que começava a ser arriscado, por isso ele ficava para ali sentado, solitário e desanimado, desejoso de um pouco de intimidade social. Mas isso nunca acontecia. As pessoas eram muito simpáticas através das grades, mas ninguém se aproximava verdadeiramente dele.
Já ao fim de uma tarde de Verão, o grande gorila viu partir os últimos visitantes e depois, um após outro, todos os empregados do Jardim Zoológico. Por fim tudo ficou sossegado. Não havia qualquer movimento. Mas de repente ouviu-se o som distante de um passo leve. Era uma tratadora que o gorila conhecia e de quem gostava muito --- a última a sair naquele dia. Quando passou em frente da jaula do animal, ela gritou-lhe uma saudação de despedida e, ao olhá-lo de lado, ficou horrorizada por ver o enorme corpo do animal estranhamente contorcido e, ao que parecia, preso num arame saliente. Correndo para a traseira da casa do macaco, abriu a porta de serviço e desceu o corredor escuro. Ao chegar à jaula do gorila, viu que teria de abrir a porta para ver claramente o sítio onde ele parecia estar preso à rede. O peito ergueu-se-lhe graciosamente quando respirou fundo para arranjar coragem para dar a volta à chave, mas ela gostava tanto do animal que não podia suportar a ideia de um pedaço de arame lhe cortar a carne e estava disposta a fazer o que fosse preciso para acabar rapidamente com o seu sofrimento. Se pudesse ver bem de perto o que estava a acontecer, saberia como proceder.
Abriu a porta devagar, pouco a pouco, esforçando-se por ver na penumbra do fim do dia. Com grande espanto seu, a jaula parecia estar vazia. O sítio onde o gorila dera a ideia de ter ficado preso à rede estava agora vazio também. Já quase às escuras, entrou na jaula para ver como é que o enorme animal tinha conseguido escapar.
Era o momento que o gorila esperava. Desde que fingira ter ficado preso na rede, só desejava uma coisaque a rapariga entrasse na jaula para o salvar, não para ter a possibilidade de lhe fazer mal, mas poder abraça-la e ter a companhia dela, evitando assim mais uma longa noite solitária. Isto pode parecer demasiadamente inteligente para o cérebro de um macaco, mas provavelmente, quando era mais novo, o tratador acorrera à jaula dele para o salvar de um embaraço semelhante e ele conseguira armazenar a recordação desse momento dentro da sua cabeça cabeluda. Agora o truque voltava a resultar e aqui estava a porta da jaula & abrir-se lentamente à sua frente. Escondido atrás da porta, para onde se passara rapidamente logo que ouvira a chave na fechadura, viu a raparíga entrar na jaula. Depois, numa precipitação cheia de alegria, avançou e rodeou-lhe o corpo assustado com os seus longos braços. Todo o restante pessoal do Jardim Zoológico já saíra. Ao cair da noite, ela era o único ser humano que ali se encontrava. O gorila, satisfeito, agarrava-se a ela como se a sua vida dependesse disso. Logo que percebeu que as intenções dele eram amigáveis, passou-lhe o medo. A porta estava entreaberta e as chaves estavam na fechadura. Se conseguisse lá chegar, talvez conseguisse passar-se para o corredor e fechar a porta atrás dela. Mas cada vez que fazia o mais ligeiro movimento para se libertar, ele apertava-a com mais força de encontro ao peito. A única coisa a fazer era esperar que ele adormecesse, por isso fingiu que estava com sono e fechou os olhos.
Assim que ouviu que a respiração dele mudara, começou novamente a deslizar devagar para fora dos seus braços, dirigindo-se pouco a pouco para o lado da porta. Mas de repente ele voltou a acordar e agarrou-a. No meio da confusão, enquanto se debatia, a porta foi empurrada por acidente, fechando-se automaticamente à chave. A força da pancada fez cair o molho de chaves da fechadura e ela ouviu-as bater do lado de fora no chão do corredor. Agora não havia mais nada a fazer senão deixar-se estar quieta nos enormes braços peludos do gorila e esperar pela manhã, pela chegada do pessoal do Jardim Zoológico para a ir libertar. A noite pareceu-lhe comprida.
Desmond Morris O tempo dos animais

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