24 maio 2014

Gaivotas Barra, Ílhavo wiki

A primeira dessas frotas, a do almirante eunuco Zheng He (Cheng-ho) em 1405, consistia em 317 vasos de guerra e transportava 28 000 homens. De 1404 a 1407, a China empreendeu uma orgia de construção naval e de reparações. Todas as províncias costeiras foram chamadas a participar no esforço, ao mesmo tempo que florestas do interior eram desmatadas para fornecer madeira. Centenas de famílias de carpinteiros, ferreiros, fabricantes de velas, cordoeiros, calafates, carregadores, até mesmo apontadores, foram transferidas por decreto e agrupadas em equipas domiciliadas em recintos vizinhos dos estaleiros. Como os mestres e os seus aprendizes eram geralmente analfabetos, a aprendizagem desenvolvia-se através do exemplo, usando modelos feitos à mão cujas peças se ajustavam perfeitamente, sem necessidade de pregos. Nenhum detalhe era pequeno de mais para escapar ao planeamento dos mestres construtores: pranchas imbrincadas, múltiplas camadas, as juntas entre as pranchas calafetadas com juta e recobertas com vis go peneirado a óleo de tungue, pregos de ferro preparados contra a ferrugem, madeiras especiais para cada finalidade, e até mesmo grandes «olhos de dragão» pintados na proa para que o barco pudesse «ver» para onde ia. Esses olhos, juntamente com um bom e equilibrado leme de popa e um pesado lastro, tudo guiado com experiência de navegação e sabedoria folclórica, levariam o barco de porto em porto. O próprio trabalho de construção era realizado em gigantescas docas secas (neste domínio, a China antecipou-se em centenas de anos à tecnologia europeia) situadas no Yangetsé. Desse modo, ao longo de um período de três anos, os Chineses construíram ou remodelaram cerca de 1681 navios. A Europa medieval não podia ter concebido uma tal armada“).
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após algumas décadas de rivalidades, de celebração e comemorações, por um lado, de insultos e repúdio, por outro, foi tomada finalmente a decisão não só de cessar a exploração marítima, mas também de apagar a própria lembrança do que tinha sido feito antes, para que as gerações seguintes não fossem tentadas a repetir a insensatez. A partir de 1436 foram recusadas todas as solicitações para a colocação de novos artífices, ao passo que, inversamente, os estrangeiros que solicitavam a renovação dos presentes foram repelidos, presume-se que por razões de economia. Por falta de construção e de conservação, as frotas públicas e privadas foram reduzidas. A pirataria floresceu em águas não vigiadas (os piratas japoneses estavam em intensa actividade) e a China confiou cada vez mais no transporte através dos canais do seu interior. Em 1500, quem construísse um navio de mais de dois mastros era passível de pena de morte e, em 1525, as autoridades costeiras foram intimadas a destruir todos os navios oceânicos e a prender os seus proprietários. Finalmente, em 1551 passou a ser crime sair para o alto mar num navio de múltiplos mastros, mesmo para fins comerciais.
A Riqueza e a Pobreza das Nações, David S. Landes

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